ha quanto tempo não escrevo aqui? (e faz tanto eco cá dentro)
sempre andei depressa de mais. vivia uma vida inconsciente na consciência que tudo estava bem, alicerçada em parâmetros e expectativas erróneos. Ilusão de uma vida de adolescente - assim caracterizo essa época. Impulsão, propulsão, rebentação. Nunca houve um respirar fundo, um pensamento mais profundo. Os objectivos eram traçados e atingidos, as metas eram rompidas e a vitória sentida. Sem grandes conclusões ou porquês, tudo era rápido e.. fugaz. Havia dor auto-infligida mas não havia medo. Havia lágrimas.. de um sofrimento momentâneo e sem introspecção.
A vida era vista com mediocridade e o futuro não era mais do que uma palavra do dicionário. Amarrada a uma infância pequena e a pouco amor próprio, a busca pela satisfação imediata era, como ela própria se auto-intitula, imediata. Escondia a dor e criava o meu paraíso. Eram gotas de tinta num quadro que nem o Picasso iria compreender e, possivelmente, nem o Luís de Camões iria querer navegar.
Até que um dia comecei a andar mais devagar. A música, a dança, a fotografia, o sorriso.. tudo eram armas de capacitação e esconderijo. O pensamento juntou-se ao corpo e, apesar da unificação cristã não estar completa, havia mais de Mim para Mim. O processo de racionalização começou e os efeitos - as ditas consequências - das minhas acções começaram a ter impacto no meu estado. Conseguia, ainda que durante escassos momentos do meu dia-a-dia, ver os resultados das minhas acções. Sentia as penalizações na pele. Mas mesmo assim percorria caminhos que como criança que sou.. não deveria percorrer. Exultava que sabia o que fazia..
Ilusões e enredos! Era uma louca a começar a viver a consciência de um andar mais devagar.
Neste momento.. utilizo as palavras dos outros. O asubakatchin é isso. Silencio-me no meu Eu. E peço, por favor, que me deixem em paz. Uma Paz que outrora eu nunca permitira existir. Analiso toda a sociedade e tenho medo. A busca sucessiva pelo "mais e melhor" destrói-me.. no entanto, a sociedade já não me corrompe. Os meus olhos vêem em frente e assumem um Futuro. Arrumo a biblioteca do dia-a-dia com frases d'outros numa perspectiva de vigia ao que realmente se passa cá dentro. São o meu Eu expresso em frases do Tempo e do Mundo. E estas linhas que hoje escrevo são do livro da minha memória, da minha instrospecção, de uma vida conturbada e encarcerada dentro de um corpo. Não, não chegámos ao ponto final, nem ao fim da linha. Há muito mais a escrever e a esconder, porque a sociedade é uma selva e a capacidade de não-se-mostrar-que-é-o-mais-fraco lidera. Os dois lados da arma que é a vida, apontados a mim, e eu a vê-los.. sempre.. sempre atenta. Há uma preciosidade associada a estas palavras que poucos podem sentir.. e vibrar.
Tenho medo mas prometo não vacilar.
(Um ano aqui)