sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Dei por mim a entender a mais estranha dinâmica das relações humanas: são as tragédias que nos unem. Somos feitos da vida dos nossos sucessos, mas, por outro lado, somos o produto inacabado dos nossos fracassos. Somos amigos nas tragédias dos nossos amigos: choramos com eles, abraçamo-nos a eles, conversamos com eles até que tudo acabe. Confortamo-los na esperança que um dia eles nos confortem a nós. Se formos realistas pensaremos assim. Daremos sempre a mão na esperança que, do outro lado, os dedos se fechem sobre nós e não nos larguem. Viveremos todos os dias com receio do mundo. Porque o mundo será sempre feito de dias de chuva e dias de sol, de dias maus e dias bons, de um dia ter e no outro já não. Esperamos na esperança que nos esperem – sempre. Do outro lado fazem o mesmo. Os nossos amigos também nos esperam na esperança que os esperem. Se assim não for, de nada valerão os nossos dedos à procura dos dedos deles. Ninguém será suficiente. Ninguém será a luz na noite escura. E, de facto, há muitas noites escuras. Assim como há noites em que a lua é cor de pérola e o tempo parece parar. Seremos amigos também nessas noites. Seremos mais amigos nessas noites. Tenho para mim que a amizade é mais difícil nos sucessos que nos fracassos. Quando fracassamos, todos nos dão as mãos. Todos nos parecem tristes por simpatia. Todos choram connosco – uns mais que outros. Uns de forma mais genuína que outros. As coisas más da vida sempre funcionaram como o cimento que nos une. Mas são as coisas boas que vêm provar até que ponto todos estamos unidos. Um dia, o que não conhecemos será o que iremos conhecer, e nesse dia seremos a massa mais compacta que poderemos ser. Nada nos separará - nem o nosso melhor, nem o nosso pior. Não será esta a verdadeira definição de amizade?
 
 
Pedro Rodrigues

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