Não irei fazer de conta que estou revoltado com
este país. Também não irei fazer de conta que estou surpreso com o que tem vindo
e está a acontecer. E não irei, se quer, fazer de conta que tenho algum tipo de
energia ou emoção disponíveis para com os comentários que se poderão tecer sobre
o assunto.
É este o problema. Não é que já estejamos
habituados, é que já estamos à espera que a coisa vá sempre dar a pior. E como
não nos surpreendemos, não nos revoltamos. É simples na verdade: a vantagem de
ter um povo pessimista e deprimido é que gasta todo o seu tempo a preparar-se
para o pior. O que vier depois é só a confirmação do seu pessimismo e assim não
há espaço para desilusões. Trata-se de um mecanismo de defesa que usamos
colectivamente e que neste caso nos está a levar de mal a pior.
E é por isso que não nos espera uma revolução
pela frente. Estamos todos à agarrar-nos ao mastro do barco e ver onde nos leva
enquanto esperamos o fim da tempestade. Não há quem pegue na porra do leme do
navio porque enquanto for só a tempestade a levar-nos contra as rochas então aí
a culpa não é de ninguém. E nesta terra ninguém gosta de dar a cara, mesmo que
em alto-mar.
O Mundo Hipotético dos Ses
O Mundo Hipotético dos Ses
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