quinta-feira, 7 de junho de 2012


Uma coisa que deixa tristes os meus colegas da escrita é que, em Moçambique, o lugar que é para o escritor e a escrita é quase sempre um lugar da indiferença. Não há crítica literária, não há debate, não há vida literária. Isso é agir para uma certa forma de silêncio. Podemos dizer tudo que não tem importância nenhuma. Hoje, esse mundo fala só com um sentido único, uma voz única, com um discurso único. Há muito do nosso mundo que vive ainda em sistemas de ditadura e há uns que vivem em sistemas de democracia, mas que vivem numa espécie de pensamento único, discurso único, que não aceitam que aceitem mal, que hajam vozes que são diversas e que têm maneiras diferentes de pensar e de sugerir e sonhar o mundo. É isto que a literatura, no fundo, quer dizer: é que há esta necessidade absoluta e vital do mundo ser contado por diversas histórias. E Moçambique só será uma nação mais rica se souber escutar essas vozes que hoje são remetidas para o silêncio ou para a indiferença.

Mia Couto - Moçambique

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